sexta-feira, 17 de julho de 2009

Stages - Etapas

As every flower fades and as all youth
Assim como toda flor murcha e toda juventude

Departs, so life at every stage,
Acaba, assim como cada etapa da vida,

So every virtue, so our grasp of truth,
Assim como qualquer virtude, assim como nosso anseio pela verdade,

Blooms in its day and may not last forever.
Floresce a seu próprio tempo e não dura para sempre

Since life may summon us at every age
Já que é provável que a vida nos convoque a cada idade

Be ready, heart, for parting, new endeavor,
Esteja pronto, coração, para partir, novo esforço,

Be ready bravely and without remorse
Esteja pronto bravamente e sem remorso

To find new light that old ties cannot give.
Para achar nova luz que velhas amarras não podem dar.

In all beginnings dwells a magic force
Em todo começo há uma força mágica

For guarding us and helping us to live.
Que nos protege e nos ajuda a viver.

Serenely let us move to distant places
Serenamente nos permite mover para lugares distantes

And let no sentiments of home detain us.
E não deixa que nenhum sentimento nostálgico nos detenha.

The Cosmic Spirit seeks not to restrain us
O Espírito Universal não quer nos atar

But lifts us stage by stage to wider spaces.
Mas nos erguer etapa por etapa a espaços mais amplos.

If we accept a home of our own making,
Se acomodarmos em lugares construídos só por nós,

Familiar habit makes for indolence.
Os hábitos familiares nos levarão à indolência.

We must prepare for parting and leave-taking
Devemos estar prontos para para partir e nos despedir

Or else remain the slaves of permanence.
Ou então seremos escravos da permanência.

Even the hour of our death may send
Até mesmo o momento da nossa morte deverá nos enviar

Us speeding on to fresh and newer spaces,
Rapidamente para espaços novos e frescos,

And life may summon us to newer races.
E a vida deverá nos convocar para novas provas.

So be it, heart: bid farewell without end.
Então seja assim, coração: despeça-se eternamente.

Hermann Hesse (*1877 - +1962)
Escritor alemão, de família muito religiosa, filho de pais que tinham pregado o cristianismo na Índia. Tendo recusado a religião ainda adolescente, rompeu com a família e emigrou para a Suíça, trabalhando como livreiro e operário. Em 1946 ganhou o Prêmio Goethe e o Prêmio Nobel de Literatura.

Lá, eu não sei aonde...

Véspera de viagem, campainha...
Não me sobreavisem estridentemente!

Quero gozar o repouso da gare da alma que tenho
Antes de ver avançar para mim a chegada de ferro
Do comboio definitivo
Antes de sentir a partida verdadeira nas goelas do estômago,
Antes de por no estribo um pé
Que nunca aprendeu a não ter emoção sempre que teve que partir.

Quero, neste momento, fumando apeadeiro de hoje,
Estar ainda um bocado agarrado à velha vida.
Vida inútil, que era melhor deixar, que é uma cela?
Que importa? Todo o Universo é uma cela, e o estar preso não tem que ver com o tamanho da cela.

Sabe-se a náusea próxima o cigarro. O comboio já partiu da outra estação...
Adeus, adeus, adeus, toda a gente que não veio desperdir-se de mim,
Minha família abstrata e impossível...
Adeus dia de hoje, adeus apeadeiro de hoje, adeus vida, adeus vida!
Ficar como um volume rotulado esquecido,
Ao canto do resguardo de passageiros do outro lado da linha.
Ser encontrado pelo guarda casual depois da partida -
"E esta? Então não houve um tipo que deixou isto aqui? -

Ficar só a pensar em partir,
Ficar e ter razão,
Ficar e morrer menos...

Vou para o futuro como para um exame difícil.
Se o comboio nunca chegasse e Deus tivesse pena de mim?

Já me vejo na estação até aqui simples metáfora
Sou uma pessoa perfeitamente apresentável.
Vê-se - dizem - que tenho vivido no estrangeiro.
Os meus modos são de homem educado, evidentemente.
Pego na mala, rejeitando o moço, como a um vício vil.
E a mão com que pego na mala tre-me e a ela.

Partir!
Nunca voltarei,
Nunca voltarei porque nunca se volta.
O lugar a que se volta é sempre outro,
A gare a que se volta é outra.
Já não está a mesma gente, nem a mesma luz, nem a mesma filosofia.
Partir! Meu Deus, partir! Tenho medo de partir!...




Álvaro de Campos (* 1890 - + ?)
É um dos heterônimos mais conhecidos de Fernando Pessoa, o qual declarou que Campos :

«Nasceu em Tavira, teve uma educação vulgar de Liceu; depois foi mandado para a Escócia estudar engenharia, primeiro mecânica e depois naval. Numas férias fez a viagem ao Oriente de onde resultou o Opiário. Agora está aqui em Lisboa em inactividade.»

Era um engenheiro de educação inglesa e origem portuguesa, mas sempre com a sensação de ser um estrangeiro em qualquer parte do mundo. Pessoa disse também em relação a este heterónimo que :

<Vivi na Escócia. Visitei a Irlanda. Meu coração é uma avozinha que anda Pedindo esmolas às portas da alegria. >>

Entre todos os heterónimos, Campos foi o único a manifestar fases poéticas diferentes ao longo de sua obra. Houve três fases distintas na sua obra: decadentista (influenciado pelo Simbolismo), futurista ( versilibrista, jactante, e com uma linguagem eufórica onde abundam as onomatopeias, uma série de poemas de exaltação do Mundo moderno, do progresso técnico e científico, da evolução e industrialização da Humanidade) e niilista (desilusão com o Mundo em que vive, a tristeza, o cansaço).