sábado, 3 de outubro de 2009

“I will buy the flowers myself”


Desde pequena sou acostumada a minha própria companhia. Acho que isso explica muita, muita coisa mesmo do rumo que minha vida tomou. Sou caçula e minhas irmãs são respectivamente 4 e 6 anos mais velhas que eu e definitivamente fazem escolhas bem diferentes das minhas. Já brinquei muito sozinha: de boneca, de princesa de conto de fadas, de pegar a bicicleta e ir até a lagoa subir nas árvores, de ler livros da coleção vaga-lume, de quebra-cabeças. Sempre gostei de ter autonomia, de fazer aquilo que realmente desejava, tendo companhia ou não. Por outro lado organizava festinhas, presidia comissões de formatura, viajava com amigas. Cresci assim, sendo independente e digamos carismática. Adoro passear sozinha, pegar um ônibus/carro/avião e uma mochila e sair por aí conhecendo gente. Adoro estar com meus amigos num boteco ou na sala lá de casa até tarde da noite. Aqui estou aprendendo a equilibrar o convívio com os brasileiros e a prática do inglês/contato com outras culturas. Tenho tido ótimos momentos com o quarteto Carol/Marcela/Naiara/Luiz - como o passeio de barco a Greenwich, o happy hour com a Comunidade de Estudos Brasileiros e Portugueses, sem contar as burocracias que sempre optamos por decifrá-las juntos! Mas para mim a melhor forma de estar aberta para o novo é estar sozinha – terá isso alguma ligação com arquétipos da infância? Não sei... não sei se simplesmente sou assim e ponto! Alguns lugares imaginários, por exemplo, pedem que o visitamos sozinha. Senti isso quando refiz a caminhada de Mrs Dalloway, protagonista do romance homônimo de Virginia Woolf. Tinha tanta intimidade com esta obra que não havia como compartilhar a emoção de tentar vivê-la. Este foi um dos dias mais alegres que tive aqui. Ao andar pelo Dean’s Yard, pela Westminster e Victoria Street, pelo St. James' Park, pela Picadilly Street, pela Old e New Bond Streets até chegar a Oxford Street eu conversei com tantas pessoas pelo caminho! Com turistas espanhóis, com vários guardas (me perdi algumas vezes!), com o dono da loja de conveniência que é do Afeganistão... e depois descobri uma biblioteca ótima no meu bairro e fiquei amiga da camareira peruana da moradia... Fiquei feliz porque saber que posso contar comigo quando precisar e que me divirto muito em minha companhia! Assim como Clarissa Dalloway - introspectiva, emotiva, preocupada em se comunicar e em acreditar no significado de sua vida – estou aprendendo a aceitar as coisas como elas são e a tirar o melhor proveito delas.




Virginia Woolf *1882 + 1941

Uma das mais importantes escritoras britânicas. Realizou uma série de obras notáveis, as quais lhe valeram o título de "a Proust inglesa". Faleceu em 1941, tendo cometido suicídio.

Virginia Woolf era filha do editor Leslie Stephen, o qual deu-lhe uma educação esmerada, de forma que a jovem teria frequentado desde cedo o mundo literário.Em 1912, casou-se com Leonard Woolf, com quem funda, em 1917, a Hogarth Press, editora que revelou escritores como Katherine Mansfield e T.S. Eliot.

Virginia Woolf foi integrante do grupo de Bloomsbury, círculo de intelectuais que, após a Primeira Guerra Mundial, se posicionaria contra as tradições literárias, políticas e sociais da Era Vitoriana.

A obra de Virginia é classificada como modernista. O fluxo de consciência foi uma de suas marcas mais conhecidas e da qual é considerada uma das criadoras.Suas reflexões sobre a arte literária - da liberdade de criação ao prazer da leitura foram reunidos em dois volumes O Leitor Comum , homenagem explícita da autora àquele que, livre de qualquer tipo de obrigação, lê para seu próprio desfrute pessoal.

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